sábado, 26 de dezembro de 2009

ESCADA



Se apaixonar por alguém é como subir inconscientemente os degraus de uma longa escada. Tal qual sonâmbulo que, atraído pelo aroma doce, segue atrás de uma rosa que sonha no topo. É como subir uma escadaria e dar-se conta apenas no meio do caminho, de onde então se percebe que voltar não é mais possível. Como se os degraus deixados para trás não pudessem ser percorridos do avesso, como se não houvesse sentido inverso, porque são passados e assim sendo dias vividos, não podem ser revividos.
É subir um degrau novo a cada dia, a cada hora: um olhar doce; um sorriso franco; uma conversa sincera; uma lágrima escondida; um sábado a noite; uma festa; uma dor compartilhada; uma alegria mutuamente vivida. Uma mentira que se conta, razões inconfessadas, para se esconder o que ainda nem se sabe o que é. Uma verdade confessada a medo, de algo que não se sabe o que será.

Deixar de amar alguém, se "desapaixonar" por assim dizer, é também como descer pelos degraus dessa mesma escada. Também como quem nem se apercebe e que só nota no caminho a meio que do mesmo jeito não pode voltar atrás para recuperar o que foi perdido: um olhar não mais dado; um sorriso frio; palavras não ditas, que no ar ficam suspensas, congeladas; uma lágrima árida; um tédio mutuo no fim de semana; uma briga e uma intriga; uma dor solitária pelo outro não compreendida; uma alegria agora dividida. Uma palavra falsa, como desculpa; um toque áspero sem carinho, uma carícia esquecida. Uma mentira que se conta, para se esconder o que não se sabe mais se é, para esconder que não mais se sabe. Uma verdade confessada com raiva ou com medo, de algo que se sente que não mais será.

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