domingo, 31 de janeiro de 2010

RESSACA DE TI

Mirei o fundo do copo
E nele vi tua face
Te traguei em goles tácitos
E pedi nova dose
Estava lá: ainda tão cândida e bela!
Como dantes
Inferno de Dante!
Não mais menina, agora mulher
Em morosas palavras ardentes
Te sorvi em poesias lânguidas
E de ti me embriaguei
Te senti por minhas veias correr
A cabeça tontear
E minha alma enlouquecer
Passei mal e vomitei
Cada gota de vodka e de conhaque
Mas a ti não expurguei
Abstémio que hoje sou
De teu vício não me curei
É, tu és meu vicio, minha doce droga maldita
Minha grande embriagues de sempre
Minha eterna ressaca pálida
Ainda sinto teu gosto em minha boca
Vou escovar os dentes

DUVIDA

Não sei mais se amo tu
Ou se amo ela
Não sei mais se é tu o meu amor
Ou se agora é de novo ela
Não sei mais se é ela meu amor
Ou se é ainda tu
Não sei dizer se ainda te amo
Ou se é mesmo ela meu novo amor
Não sei também se tu é tu
Ou se quem sabe tu é ela
Talvez que seja ela tu
Quando te olho nestes teus olhos morenos
Tenho certeza: és mesmo o amor da minha vida
Mas quando te olho nessa boca branca
Percebo: não te esqueci ainda
E tu voltou e tudo voltou
E ela voltou e tudo retornou
Mas mesmo assim tu não passou
Mas mesmo assim ela ficou
ai, que me ponho a ficar louco
Pos já não sei mais o que sinto- apenas que sinto
Não sei mais se é tu o meu amor
Ou sse ainda é ela
Não sei dizer se ainda a amo
Ou se é mesmo tu meu novo amor
Não sei mais se amo ela
Ou se amo tu
Não sei mais se é ela o meu amor
Ou se agora é de novo tu
E nem sei mais quem de tu é tu
Ou quem de tu me lembra ela
Nem quem dela é dela
E o que nela tem de tu
Quem dela é tu?
Quem de tu é ela?
Talvez fosse melhor que eu pensasse numa terceira
Uma assim que eu não amasse mas que
Amasse a mim, e que fosse suficientemente bela
Amena e encantadora, amiga (fuga)
Porque nem tu, nem ela
Nem ela, nem tu
Hão de me amar um dia
Tu: pequena, morena, roliça,languida
Tem outro amor
Tu: longilínea, pálida, macilenta, trágica
Tem outro também
Então que importa se eu ame?
E que importa quem?
E eu nem devia dizer essas coisas a voces duas
Mas ha tanto vinho em minha cabeça agora
E essa duvida que me mortifica
Vou lá fora olhar a lua

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SINA



Ah, que sina é essa de ter em tão alta conta quem pouco se importa
O fado de amar quem não te ama
De gostar mais que o outro gosta!
Só eu te amei- tu mal se apercebeu
Só eu me lembro ainda- tu já esqueceu
E eu que noites em brados por ti, insone, velei chorando
Tu quiçá dedicou cinco minutos (duvido!) em mim pensando?
E eu que me assusto se um espinho lhe fura o dedo
Tu terás uma lágrima pra mim se eu morrer?- Um suspiro ao menos?
E só eu choro- tu te ris
E só eu amo- tu te vais
E eu te espero- tu se foi
Eu te procuro- já é tu longe!
Me dou por completo- tu só migalhas
Tu some. E nada!
Ó, Senhor! Que sina é cuidar assim de quem não se importa
Cruel fadário é amar quem quando muito apenas gosta
E se devo, contudo, amar apenas
Quem também me ama
(prioridade pra quem te tem em prioridade, opção pra quem te tem como opção)
Porque quando sozinho a noite pergunto:
"Quem é que me ama como eu amo?"
Não me responde nem o eco no escuro?
Mas se devo, no entanto, amar a penas
Quem pouco me valoriza ou m rejeita
Como o posso suportar?
Gastar minhas rotas penas
A voar atrás de um anjo de grandes asas
Eu simples sabiá?
E nesse labirinto de solidão infinda
Todas as portas estão fechadas
Choverá de meus olhos oceanos tantos
Por poucas e esquálidas lágrimas?
Lutarei só contra exercitos poderosos
Por quem por pequena inconveniencia
Irá embora sem nem mesmo dizer adeus?
Ai! Que sina essa gostar mais de uma pessoa
Do que essa pessoa nos gosta
Ficar e esperar, por quem foi embora...

domingo, 24 de janeiro de 2010

PALIDA MASCARADA




Eu sou aquela que sorri encantadora
Enquanto dentro se contorce de dor
Que usa mascaras de mentiras verdadeiras
Pra esconder a falsa verdade d´um amor
Que gargalha mesmo sentindo da morte o estertor
Eu sou a carnavalesca com suas fantasias
Que fúteis sonhos conta, frívola
Que com um sorriso sempre cala uma dor
Aquela das lágrimas e magoas escondidas
Que vive duas vidas numa mesma vida
Por todos tão amada- mas sem um amor

sábado, 16 de janeiro de 2010

TUAS CORES



Em teu regaço adormeço
Por dossel teu cabelo negro
Por travesseiro meu- tuas fartas coxas brancas

Em teu colo me deito e me esqueço
Por céu nocturno teus cabelos pretos
E teus seios: duas pálidas luas, cândidas

Por meu céu tuas negras tranças
E teus olhos verdes minhas estrelas
Em teu abraço enleado me perco

O meu céu é de teus olhos o azul
E o sol não brilha mais que teu riso
Ó, em teu beijo morro e ressuscito!

Não, não é mais pálida entre a névoa a lua
Não é essa noite que teu cabelo mais negra
Nem um céu de verão que teus olhos mais azul

Não, nem é mais belo o arrebol
Do crepúsculo a nocturna viração
Entre tu e de Gaia qualquer beleza- inda sou mais tu!

E que importa se o céu é azul?
É noite ainda em teu cabelo preto!
E que me incomoda que é negra a noite fria?
Cintila inda quente o dia em teus olhos azuis
Que me importa que desabe a vida lá fora
Se adormeço aqui em tuas alvas curvas brancas?

Ó, e a vaga que brame quando na praia rebenta
O verde de Oceano que de Urano o azul do céu se mistura
Não me inunda mais que estes teus olhos lânguidos

Ai! Quero nestes verdes olhos de céu mergulhar
Pelas nuvens cinzas do teu cerúleo mar quero poder voar
Olhos de Minerva que afogariam qualquer Netuno

SONETO DA PARTIDA PARA A ITALIA



Minha bela, vou-me embora, para a Italia
Para de Roma as luzes e para as noites de Sorrento
A alma de saudade vaga, mas te levo em pensamento
Deixar esta terra maldita que não é minha

Minha bela, vou-me agora, que já é tarde
Nestas paragens tempo demais desperdicei
Sim, e é provavel que sempre te amarei
Mas te deixarei, e não volto; não me aguarde

Desta terra não levo saudade, apenas mágoa
Não respirar mais desse ar nem beber dessa água
Menina, vou-me embora. Não me agarres!

E sob o sol morno das praias do Mediterraneo
E sobre de Milano do chão a branca neve
Enfim repousar este corpo romano

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NA PRAIA , SOB A CHUVA




Lembrar de ti me da tanta saudade de mim mesmo
De tantas coisas olvidadas la atrás
tanto de ti em mim e em tu vejo tanto de mim- do que fui, do que sou, do que em ti sempre serei
Se desprende então de ti esse fluído que te é tão próprio, como essa luz que irradias, que é tão tua
Esse eflúvio vaporoso com o qual me embebo em enleio, ébrio
Essa aura de névoa da roxa neblina de uma alma delicada
E essa fragrância doce da ternura de tua formosura sempre pálida
entre nós, penso, como que que um acordo secreto, inconfessado.
Uma promessa jamais dita, uma jura , assim sabe, que nunca foi feita?
E nosso mais ardente beijo ainda é aquele que nunca foi dado
E vem então a vaga suspirosa acariciar a areia branca, tímmida, na madrugada
Um véu de escuma banha tuas formas brancas, longilíneas- nua sob a lua
A diafana cortina das neblinas cai, se desprendendo furtiva do manto nebuloso do céu revolto
Da tormenta que chega, que violenta mas docemente se aproxima
Esse véu vaporoso e níveo que a tudo envolve em eflúvios lentos, como esse teu cheiro
No horizonte os morros inda roxos no arrebol que mata Apolo de novo
E tu corres doida pelas areias, as formas alvas movendo-se alegres; saltitas, deslizas, parece que até voas!
As pernas longas da carne desejada onde a vaga te beija erótica
E tu apertas entre esses dedos longos estes globos alvos, pressurosa
Argentea lua que prateia tua tez eburnea, sobre a qual Urano pranteia
Ergue teus longos e magros braços de marfim em direcção a mim- me chamas
Ai! Tudo que poderia ter sido e que não foi e que jamais será, tanta coisa assim se irrompe das profundezas
Como águas represadas, a tanto tempo atormentadas, como a lava que irrompe ardente e implacável do seio da terra até pouco antes impassível!
Sim! Um beijo nos devemos ainda por tudo que displiscentemente deixamos se esvair, que por força das circunstancias ou que por falta das tuas forças se assim deixou sumir
As promessas que deixamos fenecerem e teus olhos castanhos a desmaiar!
E, pelo véu de névoa, diáfana, tu te aproximas, macilenta
Deita teu corpo esquálido e formoso na areia comigo
O manto da tempestade cobre, suavemente, a cúpula negra de estrelas do céu
Chorando o pranto de tanto sonho natimorto, que morreram assim sem sentido (mas não sem terem sido sentidos), que não foram mas poderiam bem terem sido
Rescende sobre teu colo de neve e sobre meu rosto em febre esse manto escuro
De teus cabelos negros que assim se deitam sobre a pálida tez suada, onde as lágrimas de Diana são estrelas
Ó! E lembrar de ti desperta em mim tanta saudade de mim!
Tocar essa tua tenra carne branca, esses seios fatos e voluptuosos apertados em mim que até te posso ouvir o coração bater!
Um vulcão em erupção, águas que irrompem do fundo de um abismo de quilómetros
Tanto de mim nessa tua carne, nessa tua boca, nesses teus olhos; tanto eu na sua alma
A onda se choca com a areia da praia num abraço de desejo
A chuva das nuvens, que era do mar, o mar reencontra numa sequiosa cópula
Estes teus seios alvos, balouçantes, arquejando, palpitantes; saltitando sobre mim
Minha boca tua boca encontra como no horizonte encontra o oceano o céu
A areia encontra a chuva, e a chuva abraça a areia, como minhas coxas encontram tuas coxas
E beija a praia a vaga como meu corpo com teu corpo se choca
Tudo se une de novo, tudo é um só num encontro mutuo
Tanto de mim em ti e tanto de ti em mim!
Na chuva- o oceano e o céu feitos um
Eu dentro de ti, tu dentro de mim
Na praia- feitos um o mar e a areia
Na noite- um só, eu e tu...

sábado, 9 de janeiro de 2010

ULTIMA LAGRIMA



em mim uma lágrima
Que por ti ainda não derramei
Fria e solitária lágrima
Que num verso te cantarei

Não, não te amo mais
Mais de um amor entre aquele amor e nós
Não, contigo não sonho mais
Mas ainda vejo em ti a razão de cada motivo que me apaixonou

Uma ultima lágrima te dou
Pelo que poderia ter sido e não foi
E um sorriso novo que assim ficou
Pela amizade que ainda entre nós dois

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

VOLTA



Ai! Volta inda uma vez
Que eu não soube esquece-la
O gosto de teu beijo
Em minha boca ainda queima

E tanto tempo se passou
Tu mudaste e eu também
Quanta saudade daqueles dias
Que eu nunca mais terei

Ai! Se ainda te amo?
Sim e não, eu diria
Amo quem tu fostes, mas quem tu és
Amo pela que seria

Te tenho no coração ainda como eras
Em ti amo a lembrança de tu mesma
Mas sei que somos outros- outro tempo, outra época
Em ti viva amo a ti que é morta
Amo em ti a sepultura de quem tu eras

(...)

Mas também gosto de quem és hoje
Apenas que pareces outra mulher
Nem melhor, nem pior- outra é
Ai! Que talvez esqueço de quem tu fostes
Pra me apaixonar por quem tu és?
Tendo assim dois amores- na mesma mulher!?

Esquecer e reapaixonar-me
De novo pela mesma menina
Ao mesmo tempo pela mulher e pela ninfa
Amar-te, esquecer-te e amar-te novamente
Que sina seria a minha!
Amar-te duas vezes na mesma vida!...

sábado, 2 de janeiro de 2010

DERRADEIRO ABRAÇO


Exangue eu me deito entre meu vomito e tua merda
Como um louco eu corro pelo meu sangue através
Teus olhos vidrados se apagam em uma lágrima
Rastejo em direção a saída, pois não mais fico de pé

Bater a porta já não posso, com minhas unhas quebradas a arranho
Secos olhos choram o pó das lembranças que não foram, ninguém abre
Ó, ninguém jamais ouviu os gritos hoje mudos- ninguém ouve- eu mudo
Lágrima escorre lânguida da face ao colo de neve- que não arqueja ou palpita, inerte

Me viro convulso na cama de arame farpado, me contorço (e me corto) e misturo
Meu sangue com teu sangue, minha lágrima com tua lágrima
Te abraço (um ultimo). Tão pálida e tão fria, imóvel- revolvo
O sangue na lágrima e a lágrima no sangue- que lastima!

Num ultimo dos beijos- suor, saliva, sangue, lágrima, excremento e urina- cheiro de morte
Misturo o sangue no vomito e na lágrima a merda; uma só são suas entranhas nas minhas
Duas vidas malfadadas, não vividas, que findam- hematomas e cortes
Uma cena terrível e repugnante- que poderia contudo ter sido tão bela...

"AQUELA QUE VIRA"



E tu eu chamarei de "Aquela que vira"
Como vira não sei, nem como será
Talvez que tenha cabelos castanhos
Quiçá flavos como o trigo
Pretos de azeviche talvez, assim como bem gosto
Cerúleos olhos, glauco olhar, talvez negros e profundos
Mas que seja doce, radiante e meiga
Desse tipo de menina tímida e romântica que tanto me encanta
Que tenha sorriso de fada e olhar de ninfa
E um jeito de anjo no andar, como se voasse
Um jeito suave no tocar, como se não tocasse
Estará comigo nas noites frias
Assim como nos dias de sol
E será assim como minha eterna companhia
Livrarei-me de minhas dores curando tuas agonias
E quando não estiveres perto
Serei saudoso até de teus defeitos
Só te pesso, "Aquela que vira"
Que não tardes muito que eu entardeço
Que venhas antes da noite
Quando os lobos espreitam
Minha cansada carne para jantar
Só te pesso mesmo isso, que não te atrases
Não sei, quem sabe se amanhã não morro?
Não te quero ver vestida de luto
Antes mesmo de eu ver-lhe o rosto
Não quero deixar este mundo
Antes que venhas para meu mundo