terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NA PRAIA , SOB A CHUVA




Lembrar de ti me da tanta saudade de mim mesmo
De tantas coisas olvidadas la atrás
tanto de ti em mim e em tu vejo tanto de mim- do que fui, do que sou, do que em ti sempre serei
Se desprende então de ti esse fluído que te é tão próprio, como essa luz que irradias, que é tão tua
Esse eflúvio vaporoso com o qual me embebo em enleio, ébrio
Essa aura de névoa da roxa neblina de uma alma delicada
E essa fragrância doce da ternura de tua formosura sempre pálida
entre nós, penso, como que que um acordo secreto, inconfessado.
Uma promessa jamais dita, uma jura , assim sabe, que nunca foi feita?
E nosso mais ardente beijo ainda é aquele que nunca foi dado
E vem então a vaga suspirosa acariciar a areia branca, tímmida, na madrugada
Um véu de escuma banha tuas formas brancas, longilíneas- nua sob a lua
A diafana cortina das neblinas cai, se desprendendo furtiva do manto nebuloso do céu revolto
Da tormenta que chega, que violenta mas docemente se aproxima
Esse véu vaporoso e níveo que a tudo envolve em eflúvios lentos, como esse teu cheiro
No horizonte os morros inda roxos no arrebol que mata Apolo de novo
E tu corres doida pelas areias, as formas alvas movendo-se alegres; saltitas, deslizas, parece que até voas!
As pernas longas da carne desejada onde a vaga te beija erótica
E tu apertas entre esses dedos longos estes globos alvos, pressurosa
Argentea lua que prateia tua tez eburnea, sobre a qual Urano pranteia
Ergue teus longos e magros braços de marfim em direcção a mim- me chamas
Ai! Tudo que poderia ter sido e que não foi e que jamais será, tanta coisa assim se irrompe das profundezas
Como águas represadas, a tanto tempo atormentadas, como a lava que irrompe ardente e implacável do seio da terra até pouco antes impassível!
Sim! Um beijo nos devemos ainda por tudo que displiscentemente deixamos se esvair, que por força das circunstancias ou que por falta das tuas forças se assim deixou sumir
As promessas que deixamos fenecerem e teus olhos castanhos a desmaiar!
E, pelo véu de névoa, diáfana, tu te aproximas, macilenta
Deita teu corpo esquálido e formoso na areia comigo
O manto da tempestade cobre, suavemente, a cúpula negra de estrelas do céu
Chorando o pranto de tanto sonho natimorto, que morreram assim sem sentido (mas não sem terem sido sentidos), que não foram mas poderiam bem terem sido
Rescende sobre teu colo de neve e sobre meu rosto em febre esse manto escuro
De teus cabelos negros que assim se deitam sobre a pálida tez suada, onde as lágrimas de Diana são estrelas
Ó! E lembrar de ti desperta em mim tanta saudade de mim!
Tocar essa tua tenra carne branca, esses seios fatos e voluptuosos apertados em mim que até te posso ouvir o coração bater!
Um vulcão em erupção, águas que irrompem do fundo de um abismo de quilómetros
Tanto de mim nessa tua carne, nessa tua boca, nesses teus olhos; tanto eu na sua alma
A onda se choca com a areia da praia num abraço de desejo
A chuva das nuvens, que era do mar, o mar reencontra numa sequiosa cópula
Estes teus seios alvos, balouçantes, arquejando, palpitantes; saltitando sobre mim
Minha boca tua boca encontra como no horizonte encontra o oceano o céu
A areia encontra a chuva, e a chuva abraça a areia, como minhas coxas encontram tuas coxas
E beija a praia a vaga como meu corpo com teu corpo se choca
Tudo se une de novo, tudo é um só num encontro mutuo
Tanto de mim em ti e tanto de ti em mim!
Na chuva- o oceano e o céu feitos um
Eu dentro de ti, tu dentro de mim
Na praia- feitos um o mar e a areia
Na noite- um só, eu e tu...

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