sábado, 2 de janeiro de 2010

DERRADEIRO ABRAÇO


Exangue eu me deito entre meu vomito e tua merda
Como um louco eu corro pelo meu sangue através
Teus olhos vidrados se apagam em uma lágrima
Rastejo em direção a saída, pois não mais fico de pé

Bater a porta já não posso, com minhas unhas quebradas a arranho
Secos olhos choram o pó das lembranças que não foram, ninguém abre
Ó, ninguém jamais ouviu os gritos hoje mudos- ninguém ouve- eu mudo
Lágrima escorre lânguida da face ao colo de neve- que não arqueja ou palpita, inerte

Me viro convulso na cama de arame farpado, me contorço (e me corto) e misturo
Meu sangue com teu sangue, minha lágrima com tua lágrima
Te abraço (um ultimo). Tão pálida e tão fria, imóvel- revolvo
O sangue na lágrima e a lágrima no sangue- que lastima!

Num ultimo dos beijos- suor, saliva, sangue, lágrima, excremento e urina- cheiro de morte
Misturo o sangue no vomito e na lágrima a merda; uma só são suas entranhas nas minhas
Duas vidas malfadadas, não vividas, que findam- hematomas e cortes
Uma cena terrível e repugnante- que poderia contudo ter sido tão bela...

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