quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

MENINA

És ainda pra mim a mesma menina
Que um dia conheci- pálida criança
És ainda a mesma porque é ainda a mesma minha perplexidade
Estupefacto espanto de assim te encontrar na vida
Conviver contigo é conjugar o verbo desta perplexidade eterna constantemente
Mas és mulher- de paradoxos sem fim
De sempre novos mistérios velhos a serem desvelados
Abstracção surreal em minha mente- de andar lírico e toque fugaz
Cintila a luz de teu olhar oblíquo que dardeja
Sobranceiro em seu negror absoluto
Iluminando de mim meu mais tenebroso recanto no entanto
E faz tempo já que não nevas por aqui o leite cândido e meigo de tua presença sempre radiosa
Faz tempo que não conjuga teu nome em verbo de viver em minha vida
Mas há sempre qualquer coisa de ti na atmosfera
Nessa monótona paisagem petrificada de sempre em toda parte tu estas
Assim como a alma a animar um corpo oco
Há sempre qualquer coisa de ti em toda parte de minha vida, na atmosfera
Na infinda perplexidade do espaço suspensa- suave porém também densa
Vaporosas emanações de ti que esvoaçam sempre em dança
És amanhecer e entardecer, meio dia e alta noite
E assim sempre vives no ar mesmo que eu respiro
Sempre presente até em sua ausência
És mulher (e que mulher!), mas nesta perpetua estupefação de nosso primeiro encontro
És sempre menina de novo
Como nesse jogo de eterno retorno
É sempre infante a primavera
És, Rainha branca de neve, meu doce inverno primaveril
És minha noite e meus dias ainda, como sempre
Minhas caídas carentes folhas de outono
Sinto que te vais, tu te afastas lentamente; minha vida deixas
Mas a perplexidade de nosso primeiro encontro
Permanece até mesmo em nossas despedidas
Essa parte de tu que irremediavelmente esta pra sempre, indivisivelmente, em mim
Ficará aqui comigo compartilhando de tua ausência
Querida, és mistério constante, verdade inconstante de cada instante
Vogal e consoante
Eu te venero e desprezo, eu te preciso mesmo quando não quero
Eu te respiro
Eu vivo a ti
Conjugo teu nome (secreto nome) como o verbo viver
E conjugo viver como amar
Conjugo a ti sem palavra dizer
Vivo tu em cada instante a fazer
Se não estou morto é porque estou (teu nome)

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