quarta-feira, 17 de março de 2010

JUVENTUDE ENVELHECIDA

Me serão nescessários pois
Mil sortilégios novos
Para compensar-me assim
Essa incompletude eterna
De uma infância não vivida
Uma juventude assim roubada
Devo conhecer mil mistérios outros
Para poder preencher o vazio e fechar o buraco
Curar as feridas, sanar o asco
E me será dada certa liberdade
Certa liberalidade na libertinagem
A guisa de compensação que seja
Pelo tempo que não volta
Pela dor que não se cura
A ferida sempre aberta
A eterna amargura
Que eu carregarei vida a fora
e, ó, há tantos piores que mim eu sei
Mas há tantos melhores também
E tantos piores sem porque
E tantos melhores sem merecer
E, ah, tantos melhores piores e tantos piores melhores- vê?
E por tudo que poderia te sido
Mas não foi
E por todos os sorrisos que eu poderia ter vivido
Mas que foram dor
Me será dada certa liberdade
Certa liberalidade na violência
Pra punir os ladrões de minha adolescencia
E para todo crime contra mim feito
Que não houver culpado exacto
Haverá um anestésico
Um whisky e um vinho
E um anjo alado ao lado
Uma compensação em luxuriante abundância
Um longo lapso de tempo de alegria intensa
Um orgasmo eterno numa Orgia que não se cansa
Por tudo que antes não me foi permitido
Por tudo que era meu de direito mas me foi mesmo assim interdito
A tudo hoje me permito
Salvo conduto mesmo para o mais obscuro
Pois os fins são nobres e puros
E se dos meios escusos eu disponho
Como um deus de seus poderes dispõe
Que só meus deuses me julguem e me perdoem
Não, eu não viverei para sempre
E por tudo que eu já perdi
E por tudo que eu já chorei
Não tenho um segundo mais sequer a perder!

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